Archive for janeiro 2016
Precisamos falar sobre... fetichização e apoio seletivo aos LGBT+ no mundo dos animes
OER
Primeiro de tudo, vamos falar do post anterior, o sobre romantização do estupro e de relacionamento abusivo:
1- Obrigada a todas as pessoas que abraçaram a causa. É um tema a se discutir SIM. É preocupante, naturalizado, NÃO PODEMOS fazer com que a cultura do estupro seja considerada fofa, romântica aqui no Brasil também, vamos deixar esses problemas lá no Japão, ok?
2- PELO AMOR DA DEUSA, SAIBAM INTERPRETAR TEXTO. Vi muita gente apoiando (o que me deixou extremamente feliz), mas o que eu vi de gente distorcendo totalmente o texto e falando até que eu cheguei a chamar quem apoiava de retardado (oi?), ou então que eu estava apoiando a censura (quê?), me deixou preocupada porque parece que não fui clara o suficiente no texto. Ler coisas com consciência e com olhar crítico É TOTALMENTE DIFERENTE de você querer censurar. ESTOU SENDO CLARA OU TEREI QUE DESENHAR?
3- Se quer atacar meu texto, peço que comentem aqui no blog, não fiquem se escondendo nos grupos/pages de yaoi. Eu participo/curto a maioria deles, mas quero que falem na minha cara. Obrigada. De nada.
4- VOCÊS SABEM O QUE É ROMANTIZAR? Eu explico no texto mas parece que o pessoa pega a palavra estupro e PLAU, não vê mais nada, só foca na palavra. Se estiverem com duvida do que é romantizar, leiam o texto de novo ou procurem no Google.
Agora vamos voltar ao tópico de hoje.
Antes de mais nada, se vai se doer e começar com altas explicações para defender sua visão distorcida e/ou problemática pelo menos leia até o final. Faça um favor a si mesmo e a mim, que tenho que ler coisas que nunca disse. Agora a gente vai meter o dedo na ferida mesmo.
Primeiro de tudo, vamos falar do post anterior, o sobre romantização do estupro e de relacionamento abusivo:
1- Obrigada a todas as pessoas que abraçaram a causa. É um tema a se discutir SIM. É preocupante, naturalizado, NÃO PODEMOS fazer com que a cultura do estupro seja considerada fofa, romântica aqui no Brasil também, vamos deixar esses problemas lá no Japão, ok?
2- PELO AMOR DA DEUSA, SAIBAM INTERPRETAR TEXTO. Vi muita gente apoiando (o que me deixou extremamente feliz), mas o que eu vi de gente distorcendo totalmente o texto e falando até que eu cheguei a chamar quem apoiava de retardado (oi?), ou então que eu estava apoiando a censura (quê?), me deixou preocupada porque parece que não fui clara o suficiente no texto. Ler coisas com consciência e com olhar crítico É TOTALMENTE DIFERENTE de você querer censurar. ESTOU SENDO CLARA OU TEREI QUE DESENHAR?
3- Se quer atacar meu texto, peço que comentem aqui no blog, não fiquem se escondendo nos grupos/pages de yaoi. Eu participo/curto a maioria deles, mas quero que falem na minha cara. Obrigada. De nada.
4- VOCÊS SABEM O QUE É ROMANTIZAR? Eu explico no texto mas parece que o pessoa pega a palavra estupro e PLAU, não vê mais nada, só foca na palavra. Se estiverem com duvida do que é romantizar, leiam o texto de novo ou procurem no Google.
Agora vamos voltar ao tópico de hoje.
Antes de mais nada, se vai se doer e começar com altas explicações para defender sua visão distorcida e/ou problemática pelo menos leia até o final. Faça um favor a si mesmo e a mim, que tenho que ler coisas que nunca disse. Agora a gente vai meter o dedo na ferida mesmo.
E bem fundo.
O assunto da vez é: fetichização e apoio seletivo aos LGBT+
Primeiro de tudo: O que é fetichização?
É transformar em fetiche, adoração exagerada, veneração, etc etc, Fetichização de relacionamentos homoafetivos (o que vamos abordar aqui) é, basicamente, você começar a venerar demais, transformar em algo para o próprio fetiche.
Aí vem a pergunta: "mas Rayflo, como fazem isso?"
Para responder essa pergunta, vamos aos exemplos:
Caso 1:
Fulaninha é fã de yaoi. SUPER FÃ, louca por yaoi. Não pode ter um amigo "bonito" que quer que ele seja gay, que fica jogando para cima dos outros amigos (em sua maioria, héteros) porque quer que ele seja gay. Não pode conhecer um gay que quer que ele beije qualquer outro cara na rua só para que ela veja e fique dando gritinhos de felicidade (?). Isso meus amigos, é fetichização.
Mas essa mesma fulaninha tem uma colega lésbica. Fulaninha adora gays, super apoia a """causa gay""", MAS, quando descobre que sua colega é lésbica, se afasta dela "com medo" de que ela dê em cima (?). Acha lésbicas uma coisa nojenta e invalida relacionamentos entre garotas, além claro, de criticar todo mundo que curte yuri, falando que não tem graça "porque não tem pau" (?). Isso meus amigos, e apoio seletivo aos LGBT+
Caso 2:
Ciclaninho adora hentai principalmente se tiver duas garotas se pegando. Quando a mamãe vai dormir, baixa todos hentais com yuri possível. Quando vê duas lésbicas, se mete pedindo para "participar também"(?). Quando descobre que alguma garota não é monossexual (quando ela é bi, poli ou pansexual), quer que ela chame uma amiguinha para fazer um menáge com ele.
MAS, esse mesmo ciclaninho odeia gays. Ameaça bater em qualquer gay na rua, diz que o Deus dele condena, que não pode, mas quando chega em casa vê pornô lésbico.
Entenderam onde quero chegar?
Não, o movimento não é GGGG+, é LGBT+. Caso não saiba o que significa, é Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais, além do "+", porque a definição já se ampliou e agora também abrange os queer, pans/polissexuais e vária outras definições de sexualidade/identidade de gênero.
Para essas pessoas que se acham no direito de fetichizar gays, lésbicas, bis, pans, só quero dizer que pessoas assim existem e SOFREM. Não digo isso do ponto de vista de uma pessoa de fora, que acha que sabe das coisas, digo isso como uma pessoa pansexual que nasceu em uma casa fundamentalista, rodeada de religiosos e teve/tem que ouvir coisas horríveis direcionadas aos LGBT+ e aguentar calada, porque ainda mora com os pais. Digo isso como militante que sabe o que é ver garoto gay apanhar, lésbica sofrer "estupro corretivo", ver a sociedade heteronormativa oprimir cada vez mais de um lado e do outro, pessoas que se dizem "apoiar" a causa, mas na verdade tem é uma "tara" por relacionamentos homoafetivos.
"ain Rayflo, você agora quer se meter no fetiche dos outros?"
Por favor, interprete o texto, porque esse assunto me cansa. NÃO, eu NÃO quero me meter no fetiche dos outros, só quero dizer que o seu amiguinho gay não tá lá para servir de "cobaia" dos seus "desejos fujoshi", que sua amiguinha lésbica não tá lá para beijar outra garota na sua frente porque você gosta, que quando você lidar com pessoas, tenha um mínimo de decência e não aja como uma pessoa egoísta e hipócrita, que diz apoiar a "causa gay" porque te convém na hora, mas trata mal lésbicas porque não sente tesão por elas.
"então não posso ler meus yaoi/yuti em paz?"
Mais uma vez, INTERPRETE O TEXTO, você pode ler em paz, DESDE QUE, não seja hipócrita. Saiba que tanto lésbicas quanto gays NÃO SÃO OBRIGADOS a agir para seu fetiche. Não fique dizendo que super adora gays, mas sente nojo de lésbicas.
"nossa, agora querem fiscalizar até isso? nojo desses politicamente correto"
Fácil falar em "politicamente correto" quando isso não te atinge, não achar?
"sou gay/lésbica e não vejo nada de mais nisso"
Sim, direito seu gostar que te coloquem em um pedestal de perfeição, mas não faça de VOCÊ, um exemplo para uma comunidade ENORME.
"mas isso é MEU GOSTO"
Engraçado como seu gosto é IDÊNTICO ao de milhares de pessoas que adoram fazer isso. Que gosto engraçado e conveniente, não é?
"mas isso é MEU GOSTO"
Engraçado como seu gosto é IDÊNTICO ao de milhares de pessoas que adoram fazer isso. Que gosto engraçado e conveniente, não é?
Esse assunto se expande bem mais, principalmente porque, se você parar para ver, 99,999% dos mangás yaois são com gays "no padrão". O que é "no padrão"? São gays magros, altos, que não são "pintosos", cabelo liso, brancos, o típico "bonito" na nossa sociedade.
Isso sem falar nos yuris, que são bem raros quando tratam realmente para o público lésbico, porque querendo ou não quem mais consome conteúdo yuri são garotos, então você vai achar bem mais facilmente yuri em hentais, ou animes altamente hipersexualizados, como Valkirye Drive por exemplo, em que só tem garotas com carinha fofa (as famosas moe) e as peitudas, típico fetiche masculino.
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| Valkyrie Drive Mermaid |
Não quero impedir ninguém de fazer nada, nem censurar nada, antes que peguem partes do meu texto e distorçam ao seu bel prazer, só quero que coloquem a mão na consciência e respondam:
De que maneira reagem com esses conteúdos? Você gostaria que olhassem para você como um fetiche? Gostaria que dissessem que apoiam uma causa a qual você defende, desde que você não apareça?
Quer ficar com seus yaois/yuris? Tranquilo. Mas cuidado ao lidar com questões que vocês não sabem. Cuidado ao lidar com pessoas. São humanos, não personagens de uma história que você gosta, ok?
PS: aceito dicas para assuntos futuros. Tenho alguns em pauta, mas sempre bom ter ideias <3
Beijos e até a próxima.
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precisamosfalar,
Precisamos falar sobre... romantização de estupro e relacionamento abusivo no mundo yaoi
OER
Sim, primeira postagem para estrear esse blog e já vamos começar com problematização. Eu poderia postar na minha page (onde por sinal já fiz vários posts sobre), mas decidi trazer para cá, porque preciso de espaço para exemplificar e esse texto pode ficar um pouco grandinho.
Primeiro de tudo: sou fã de yaoi. Leio fic yaoi, escrevo fic yaoi, milito pela causa LGBT+, e justamente por causa disso CANSEI de ficar engolindo sapo a respeito desse assunto. É um assunto sério e não, não vou deixar "lerem o que quiserem" achando isso bonito.
Então REALMENTE precisamos falar sobre a romantização de estupro e relacionamento abusivo no mundo yaoi.
Mas aí vem aquelas pessoinhas que procuram motivo para tirar o foco e dizem: "mas Rayflo, no mundo shoujo, hentai, etc etc também tem essas coisas", sim, tem, mas ao contrário do mundo yaoi, no hentai por exemplo, o estupro está ali escancarado. Sabemos que é estupro, vemos que é estupro e não pintamos de rosa para ficar achando bonito. Sim, na maioria dos casos colocam como se a garota tivesse """gostado""" do estupro e acaba """querendo mais""", mas isso envolve objetificação da mulher, misoginia, entre outras coisas bem problemáticas que estão enraizadas na sociedade, PRINCIPALMENTE a japonesa.
Trataremos disso depois, mantenham o foco.
Antes de mais nada vamos responder: O que é estupro romantizado?
O que é romantizar? É transformar em um romance, deixar fofo. Então romantizar estupro é nada mais, nada menos, do que transformar essa coisa horrível e monstruosa em algo bonitinho.
"Mas Rayflo, isso é um absurdo!"
Sim, é. E acredite, acontece mais vezes do que você pensa.
Vamos dar um exemplo clássico.
Toda fã de yaoi conhece Junjou Romantica, certo? Pois bem, um dos mangás/animes yaois mais conhecidos é também um dos mais problemáticos. Fazendo um breve resumo: Misaki é mais novo que Usagi, sendo mais específica, 10 anos mais novo que Usagi, então seu irmão confia que Usagi pode cuidar dele, mas ao invés disso o que ele faz? Isso mesmo, o estupra. A cena da primeira vez deles é uma das mais problemáticas que tem. Misaki diz não, o empurra, mas ele continua insistindo até conseguir o que quer. Basicamente a maioria das cenas de sexo (pelo menos as iniciais) entre eles é assim, Usagi quer sexo, Misaki não quer e diz não, mas ele o força até conseguir.
E de repente, como num passe de mágica, Misaki se descobre gay e se apaixona como Usagi. E o que as fãs fazem? Soltam rojões de felicidade, porque não importa se é estupro ou não, tem uma cena de """"""sexo""""" e já é o suficiente. Sem contar que depois disso Usagi fica extremamente ciumento, manipulador, com a desculpa de "Misaki é muito bestinha, vou protegê-lo", então o controla de todas as formas possíveis. Isso meus amigos, é relacionamento abusivo.
Outro exemplo.
Eu tenho um verdadeiro abismo por yaois com caras fardados. Sério mesmo. Amo/sou fardas, comandantes, policiais e só faltei morrer de felicidade quando achei um mangá chamado Maiden Rose, também conhecido como Hyakujitsu no Bara, mas da mesma forma que Junjou, nada mais que estupro romantizado.
Mesma fórmula de sempre: o """seme""" é super másculo, forte, robusto e quando quer sexo, não importa se o """uke""" não quer, ele vai lá e consegue. Tem uma cena em que ele estupra tanto o Taki (o uke) que só para quando percebe que a cama está cheia de sangue. Sim, ele o violentou tanto que sangrou. E Taki nem pode gritar nem nada, já que eles estão no exército, ele é o comandante e não quer que ninguém descubra que ele é gay. Devo dizer que fiquei horrorizada com aquilo, e pior, com a quantidade de gente que aceitou numa boa.
Mas aí vem os/as defensores/as que dizem: "Mas ele gostou. É apenas cu doce, se ele gostou, então não é estupro"
Aí está toda a questão. Não é não, não importa se "no fundo ele quer", é não e continua sendo não.
Imagina se fosse com você. Seu digníssimo parceiro/a quer transar, mas você não quer, ou talvez queira mas não naquele momento, então você diz não. Ao invés dele parar, o que ele faz? Isso mesmo, continua, até conseguir o que quer. Isso é estupro.
Ou então você está bêbado/a, o que é o caso de um outro anime yaoi conhecido chamado Koisoru Boukun, em que o cara bebe, o outro chega e se acha no direito de se aproveitar por era uma "bebida afrodisíaca", então rola o estupro.
Não meus amigos, estupro não é uma coisa que acontece do nada, com outras pessoas, aleatoriamente. Não é apenas quando um cara puxa para um beco escuro e violenta, acontece nesses casos também. Estupro é quando uma das partes não quer o sexo. Então, mais uma vez, não é não.
E mais uma vez aparecem os defensores/as que dizem: "Mas cada um tem que ler o que quer, não posso me meter"
Outro equívoco gritante.
SE fossem casos isolados de apenas alguns mangás/animes/fanfics yaoi, não deixaria de ser problemático, mas não seria tão preocupante como agora, mas não é o caso. São MILHARES de mangás/anime/fanfics que tem estupro romantizado e/ou relacionamento abusivo, para você achar um sem esse estigma, tem que apelar para os sites de yaoi em inglês ou espanhol ou aprender japonês, chinês, coreano, etc, porque os que mais fazem sucesso (e obviamente são traduzidos) são os problemáticos.
É por isso que essa cultura do estupro romantizado continua. É por isso que tem milhares de garotas e garotos, em sua maioria menores de idade, que acham isso normal, gerando comentários como esses:
Sim, primeira postagem para estrear esse blog e já vamos começar com problematização. Eu poderia postar na minha page (onde por sinal já fiz vários posts sobre), mas decidi trazer para cá, porque preciso de espaço para exemplificar e esse texto pode ficar um pouco grandinho.
Primeiro de tudo: sou fã de yaoi. Leio fic yaoi, escrevo fic yaoi, milito pela causa LGBT+, e justamente por causa disso CANSEI de ficar engolindo sapo a respeito desse assunto. É um assunto sério e não, não vou deixar "lerem o que quiserem" achando isso bonito.
Então REALMENTE precisamos falar sobre a romantização de estupro e relacionamento abusivo no mundo yaoi.
Mas aí vem aquelas pessoinhas que procuram motivo para tirar o foco e dizem: "mas Rayflo, no mundo shoujo, hentai, etc etc também tem essas coisas", sim, tem, mas ao contrário do mundo yaoi, no hentai por exemplo, o estupro está ali escancarado. Sabemos que é estupro, vemos que é estupro e não pintamos de rosa para ficar achando bonito. Sim, na maioria dos casos colocam como se a garota tivesse """gostado""" do estupro e acaba """querendo mais""", mas isso envolve objetificação da mulher, misoginia, entre outras coisas bem problemáticas que estão enraizadas na sociedade, PRINCIPALMENTE a japonesa.
Trataremos disso depois, mantenham o foco.
Antes de mais nada vamos responder: O que é estupro romantizado?
O que é romantizar? É transformar em um romance, deixar fofo. Então romantizar estupro é nada mais, nada menos, do que transformar essa coisa horrível e monstruosa em algo bonitinho.
"Mas Rayflo, isso é um absurdo!"
Sim, é. E acredite, acontece mais vezes do que você pensa.
Vamos dar um exemplo clássico.
Toda fã de yaoi conhece Junjou Romantica, certo? Pois bem, um dos mangás/animes yaois mais conhecidos é também um dos mais problemáticos. Fazendo um breve resumo: Misaki é mais novo que Usagi, sendo mais específica, 10 anos mais novo que Usagi, então seu irmão confia que Usagi pode cuidar dele, mas ao invés disso o que ele faz? Isso mesmo, o estupra. A cena da primeira vez deles é uma das mais problemáticas que tem. Misaki diz não, o empurra, mas ele continua insistindo até conseguir o que quer. Basicamente a maioria das cenas de sexo (pelo menos as iniciais) entre eles é assim, Usagi quer sexo, Misaki não quer e diz não, mas ele o força até conseguir.
E de repente, como num passe de mágica, Misaki se descobre gay e se apaixona como Usagi. E o que as fãs fazem? Soltam rojões de felicidade, porque não importa se é estupro ou não, tem uma cena de """"""sexo""""" e já é o suficiente. Sem contar que depois disso Usagi fica extremamente ciumento, manipulador, com a desculpa de "Misaki é muito bestinha, vou protegê-lo", então o controla de todas as formas possíveis. Isso meus amigos, é relacionamento abusivo.
Outro exemplo.
Eu tenho um verdadeiro abismo por yaois com caras fardados. Sério mesmo. Amo/sou fardas, comandantes, policiais e só faltei morrer de felicidade quando achei um mangá chamado Maiden Rose, também conhecido como Hyakujitsu no Bara, mas da mesma forma que Junjou, nada mais que estupro romantizado.
Mesma fórmula de sempre: o """seme""" é super másculo, forte, robusto e quando quer sexo, não importa se o """uke""" não quer, ele vai lá e consegue. Tem uma cena em que ele estupra tanto o Taki (o uke) que só para quando percebe que a cama está cheia de sangue. Sim, ele o violentou tanto que sangrou. E Taki nem pode gritar nem nada, já que eles estão no exército, ele é o comandante e não quer que ninguém descubra que ele é gay. Devo dizer que fiquei horrorizada com aquilo, e pior, com a quantidade de gente que aceitou numa boa.
Mas aí vem os/as defensores/as que dizem: "Mas ele gostou. É apenas cu doce, se ele gostou, então não é estupro"
Aí está toda a questão. Não é não, não importa se "no fundo ele quer", é não e continua sendo não.
Imagina se fosse com você. Seu digníssimo parceiro/a quer transar, mas você não quer, ou talvez queira mas não naquele momento, então você diz não. Ao invés dele parar, o que ele faz? Isso mesmo, continua, até conseguir o que quer. Isso é estupro.
Ou então você está bêbado/a, o que é o caso de um outro anime yaoi conhecido chamado Koisoru Boukun, em que o cara bebe, o outro chega e se acha no direito de se aproveitar por era uma "bebida afrodisíaca", então rola o estupro.
Não meus amigos, estupro não é uma coisa que acontece do nada, com outras pessoas, aleatoriamente. Não é apenas quando um cara puxa para um beco escuro e violenta, acontece nesses casos também. Estupro é quando uma das partes não quer o sexo. Então, mais uma vez, não é não.
E mais uma vez aparecem os defensores/as que dizem: "Mas cada um tem que ler o que quer, não posso me meter"
Outro equívoco gritante.
SE fossem casos isolados de apenas alguns mangás/animes/fanfics yaoi, não deixaria de ser problemático, mas não seria tão preocupante como agora, mas não é o caso. São MILHARES de mangás/anime/fanfics que tem estupro romantizado e/ou relacionamento abusivo, para você achar um sem esse estigma, tem que apelar para os sites de yaoi em inglês ou espanhol ou aprender japonês, chinês, coreano, etc, porque os que mais fazem sucesso (e obviamente são traduzidos) são os problemáticos.
É por isso que essa cultura do estupro romantizado continua. É por isso que tem milhares de garotas e garotos, em sua maioria menores de idade, que acham isso normal, gerando comentários como esses:
Essas comentários foram tirados em menos de 5 minutos em grandes grupos de yaoi/yuri no Facebook. Essas coisas também se aplicam a pedofilia, os famosos shotacons, onde as relações sempre são abusivas, já que é um adulto manipulando uma criança e fazendo-a ter relações com ele, isso quando não rola o estupro escancarado.
O problema é que esses mangás existem porque pessoas compram, porque tem público, porque já ficou tão enraizado essas questões, que já é tido como normal. Quando dizem que estupro é "ter pegada", quando agressões "viram" BDSM, quando relacionamentos abusivos viram "ciúmes saudáveis", quando estupro vira "fetiche" e as pessoas comemoram isso.
Não, não podemos deixar as pessoas "lerem o que querem" deixando o mundo yaoi mais tóxico do que já está. Não podemos fazer com que o estupro se torne algo normal e romantizado, que relacionamentos abusivos sejam vistos tranquilamente. Agora você deve estar pensando: "mas eu sei diferenciar a realidade da ficção", sim, você pode até saber, mas muita gente não sabe, muita gente diz coisas como os comentários acima por acharem isso normal.
Sim, existem outros mangás saudáveis, mas enquanto os mais conhecidos continuarem a ser modelo ruim para os outros porque vendem a rodo, mais essa bola de neve cresce e deixamos que os fãs (algumas vezes até ainda crianças com a mentalidade se formando) absorvam isso.
"Mas Rayflo, o que eu posso fazer?"
Parar de ler e compartilhar coisa problemática. Tem uma lista em uma página yaoi que tem uma lista de 100 títulos sem estupro, você encontra aqui. Tem uma site também, mas agora me fugiu a memória o link, quando eu encontrar de novo, atualizo esse post.
Então é isso por hoje. O mundo de animes e mangás tem muito mais problemática, mas vamos um de cada vez.
Até a próxima.
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